O Brasil em 2025
Diagnóstico de uma Crise Sistêmica e a conjuntura brasileira em 2025
Os dados recentes e projeções de instituições nacionais e internacionais
Em 2025, o Brasil encontra-se em um cenário de instabilidade
Apesar de alguns indicadores macroeconômicos sugerirem uma recuperação modesta, a realidade vivenciada pela população é marcada por inflação elevada, desemprego e deterioração dos serviços públicos.
O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil apresenta uma projeção de crescimento de 2,3% para 2025, conforme relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) . Entretanto, esse crescimento é insuficiente para compensar as perdas acumuladas nos últimos anos e não se traduz em melhoria significativa nas condições de vida da população.
A inflação permanece acima da meta estabelecida pelo Banco Central, com projeções indicando uma taxa de 5% para o ano . Esse cenário inflacionário afeta diretamente o poder de compra das famílias, especialmente as de baixa renda, que destinam a maior parte de sua renda ao consumo de bens essenciais.
Em março de 2025, foi solicitada ao Congresso Nacional a realocação de cerca de R$ 40 bilhões no orçamento, visando aumentar os gastos com aposentadorias e subsídios, enquanto se reduzem os recursos destinados a programas sociais como o Bolsa Família .
Os indicadores sociais revelam um quadro preocupante. A pobreza e a desigualdade permanecem em níveis elevados, e o acesso a serviços públicos de qualidade é limitado. Na educação, embora tenha havido uma ligeira melhora no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), o país ainda está distante de alcançar as metas estabelecidas.
Brasil em 2025 enfrenta um conjunto de fragilidades macroeconômicas cuja natureza não é apenas conjuntural, mas estrutural. O crescimento insuficiente, a inflação persistente, o endividamento elevado, a vulnerabilidade cambial e o desequilíbrio externo compõem um quadro de instabilidade com risco elevado de deterioração adicional, caso medidas de natureza estrutural não sejam tomadas de forma coordenada e tecnicamente fundamentada. A superação dos desafios atuais demanda reformas estruturais, investimentos em áreas estratégicas e o fortalecimento das instituições democráticas. Sem medidas concretas e comprometimento com o interesse público, o país corre o risco de aprofundar ainda mais suas dificuldades e comprometer o futuro das próximas gerações.
A conjuntura macroeconômica brasileira em meados de 2025 caracteriza-se por instabilidade fiscal, desaceleração do consumo, pressão inflacionária persistente e crescente desconfiança dos agentes econômicos, em um ambiente global adverso e com deterioração interna das variáveis de sustentação do crescimento. Os principais indicadores, extraídos de fontes oficiais como o Banco Central do Brasil (BCB), o Tesouro Nacional, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI), revelam um cenário de fragilidade sistêmica, sem margem para otimismo conjuntural.
Produto Interno Bruto: crescimento anêmico
A expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro para o ano de 2025 está fixada em 2,3%, conforme projeções do FMI divulgadas no relatório de junho de 2025 (IMF World Economic Outlook Update). Trata-se de um crescimento abaixo do potencial necessário para absorver os déficits acumulados de capital físico, humano e tecnológico dos últimos cinco anos. Ainda que positivo, o número mascara uma base de comparação deprimida, marcada pela retração da atividade industrial (-0,8% no primeiro trimestre de 2025, segundo a PIM-PF/IBGE) e pela estagnação dos investimentos privados, impactados por juros reais elevados e incerteza regulatória. A composição do crescimento revela dependência quase exclusiva do agronegócio e do setor de serviços, com retração industrial contínua e baixa produtividade média. Os dados da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), principal indicador do nível de investimento, apontam uma taxa de apenas 17,9% do PIB no primeiro quadrimestre, insuficiente para sustentar ciclos virtuosos de modernização e expansão estrutural. A indústria de transformação, que outrora representava mais de 20% do PIB nacional, caiu para 10,4% em 2025 (segundo a CNI), refletindo um processo contínuo de desindustrialização.
Inflação e desvalorização cambial: a corrosão silenciosa
A inflação acumulada nos últimos 12 meses até maio de 2025 atingiu 5,04%, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), ultrapassando o centro da meta de 3% estipulada pelo Conselho Monetário Nacional. Esse patamar inflacionário, embora inferior aos picos de 2022–2023, permanece estruturalmente elevado diante da fragilidade fiscal, da rigidez da cadeia de alimentos e combustíveis, e da persistente desvalorização cambial. A cotação do dólar, que em 2024 oscilava entre R$ 5,20 e R$ 5,80, ultrapassou R$ 6,95 no fechamento de maio de 2025, registrando desvalorização de mais de 17% do real em relação ao mesmo período do ano anterior. A valorização global da moeda americana é parcialmente explicada pela política monetária contracionista do Federal Reserve, mas no caso brasileiro, a desconfiança fiscal e a fuga de capitais agravam a pressão cambial, gerando efeitos inflacionários de segunda ordem, como o aumento dos custos de produção, energia e transporte. O impacto do câmbio nos preços internos, conhecido como pass-through cambial, foi estimado em 29% nos produtos importados, de acordo com o Departamento Econômico do BCB.
Política monetária e juros reais
A taxa básica de juros (Selic) encontra-se em 14,25% ao ano desde março de 2025, após sucessivos aumentos promovidos pelo Comitê de Política Monetária (Copom). A elevação da Selic busca ancorar as expectativas inflacionárias, conter a depreciação do real e atrair capital de portfólio, mas seu efeito colateral é o encarecimento do crédito e a retração do consumo. Com uma inflação projetada de 5% para o ano, os juros reais ex-ante permanecem acima de 8%, o que coloca o Brasil entre os países com maior taxa real do mundo. Segundo levantamento da OCDE (2025 Economic Outlook), apenas Argentina e Turquia apresentam juros reais superiores. Esse diferencial, embora favoreça arbitragem cambial no curto prazo, gera um ambiente cronicamente hostil à atividade produtiva e à inovação. O financiamento ao setor produtivo caiu 12,3% em volume no primeiro quadrimestre, de acordo com a Anbima, afetando especialmente as pequenas e médias empresas, que enfrentam taxas efetivas de financiamento acima de 20% ao ano.
Endividamento público e déficit estrutural
A dívida bruta do governo geral alcançou 81,9% do PIB em abril de 2025, conforme dados do Tesouro Nacional. Trata-se de uma das maiores entre países emergentes, superando a média latino-americana de 66%, segundo o Economic Survey da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL). A trajetória ascendente da dívida reflete um déficit primário persistente, alimentado por gastos obrigatórios crescentes, renúncias fiscais e rigidez estrutural do orçamento. O déficit primário do setor público consolidado foi de R$ 75,3 bilhões no acumulado de janeiro a abril de 2025, comprometendo o cumprimento da meta fiscal prevista no arcabouço aprovado em 2023. A introdução de medidas provisórias para aumentar a arrecadação, como a MP 1227/2025, que restringe a compensação de créditos de PIS/Cofins, gerou forte reação negativa do setor produtivo e alimentou a percepção de instabilidade jurídica. O custo de rolagem da dívida pública também se elevou, com o Tesouro sendo forçado a emitir títulos com prazos mais curtos e taxas mais elevadas para atrair investidores. A participação de títulos indexados à inflação (NTN-B) e à Selic voltou a crescer, elevando o risco de deterioração do resultado nominal em cenários adversos.
Desequilíbrio externo e conta corrente
A conta corrente do balanço de pagamentos registrou déficit de US$ 46,2 bilhões nos últimos 12 meses até abril, o equivalente a 2,3% do PIB, conforme dados do Banco Central. Esse desequilíbrio externo é parcialmente financiado por investimentos diretos líquidos, que somaram US$ 61 bilhões no mesmo período, mas a qualidade desses ingressos tem se deteriorado. Em 2025, 41% do investimento estrangeiro direto corresponde a reinvestimento de lucros e operações intra-grupo, com menor impacto sobre a geração de empregos ou ampliação da capacidade produtiva. O superávit da balança comercial caiu 14% no primeiro quadrimestre de 2025 em comparação ao mesmo período de 2024, impactado pela desaceleração da demanda chinesa e pela queda nos preços internacionais de soja, minério e petróleo. O Brasil, altamente dependente da exportação de commodities primárias, apresenta baixa resiliência externa e vulnerabilidade aos ciclos internacionais, agravada pela falta de acordos comerciais modernos com regiões estratégicas como o Sudeste Asiático e a União Europeia.
Política Fiscal, Orçamentária e Tributária
A política fiscal brasileira em 2025 está marcada por um impasse estrutural: a combinação de rigidez orçamentária, pressão por expansão de gastos obrigatórios e incapacidade de ampliar receitas de forma sustentável sem desestimular a atividade econômica. O arcabouço fiscal, implementado em 2023 como substituto do teto de gastos, revelou-se insuficiente para gerar credibilidade diante do mercado, especialmente após a deterioração do resultado primário e o aumento dos passivos contingentes. A ausência de reformas estruturais, somada ao uso recorrente de medidas provisórias para recompor receitas, evidencia a fragilidade do planejamento orçamentário e a ausência de previsibilidade fiscal.
Estrutura orçamentária: engessamento e expansão das despesas
O orçamento federal de 2025, aprovado pelo Congresso Nacional com previsão de despesa total de R$ 5,67 trilhões, apresenta um perfil marcadamente rígido: mais de 93% dos recursos são destinados a despesas obrigatórias, conforme dados da Secretaria do Tesouro Nacional (STN). Dentre essas, destacam-se os gastos com previdência social (R$ 981 bilhões), folha de pagamento do funcionalismo federal (R$ 389 bilhões) e benefícios assistenciais (BPC, abono salarial e seguro-desemprego), que juntos consomem parcela significativa da arrecadação primária. A margem discricionária — isto é, a parcela do orçamento que o Executivo pode remanejar livremente — corresponde a apenas 6,8% do total, comprometendo a capacidade do Estado de executar políticas públicas em áreas como infraestrutura, ciência e tecnologia. A proposta de reestruturação orçamentária enviada pelo Ministério da Fazenda ao Congresso em março de 2025 previa a realocação de R$ 40 bilhões entre dotações, com cortes em áreas sociais, ciência e cultura para recompor despesas com previdência e subsídios setoriais. Tal medida gerou ampla reação negativa de parlamentares e entidades da sociedade civil, especialmente diante da redução dos recursos do Bolsa Família, cuja dotação caiu de R$ 175 bilhões em 2024 para R$ 162 bilhões em 2025, impactando diretamente cerca de 21,4 milhões de famílias em situação de pobreza extrema. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), relançado em agosto de 2023 com a promessa de R$ 1,7 trilhão em investimentos até 2026, teve sua execução comprometida pela ausência de espaço fiscal e pela falta de planejamento executivo. Dados do SIOP (Sistema Integrado de Planejamento e Orçamento) apontam que apenas 9,2% da dotação de 2025 foi efetivamente empenhada até maio, e 3,1% foi liquidada. O orçamento da infraestrutura transportes, por exemplo, sofreu contingenciamento de R$ 6,3 bilhões no primeiro quadrimestre, evidenciando a desconexão entre discurso político e realidade fiscal.
Arcabouço fiscal: limites e credibilidade
O novo arcabouço fiscal, instituído pela Lei Complementar n.º 200/2023, previa metas de resultado primário com bandas de tolerância, teto de crescimento real das despesas de 2,5% ao ano e regras de ajuste vinculadas ao desempenho da arrecadação. A meta fiscal para 2025 foi fixada em zero (déficit primário nulo), com intervalo de tolerância de ±0,25% do PIB. No entanto, as estimativas atualizadas da Instituição Fiscal Independente (IFI/Senado Federal) projetam déficit primário de 0,73% do PIB, apontando para o descumprimento da meta no segundo ano de vigência do novo regime fiscal. A perda de credibilidade do arcabouço reflete-se na elevação do prêmio de risco exigido pelos investidores para a compra de títulos públicos. O Credit Default Swap (CDS) de cinco anos — termômetro do risco Brasil — atingiu 298 pontos-base em junho, contra 224 em dezembro de 2024. Esse aumento eleva o custo de financiamento do Estado e reforça a percepção de que o arcabouço, sem reformas de despesas e consolidação de receitas, é insuficiente para assegurar sustentabilidade fiscal no médio prazo.
Medidas provisórias e distorções tributárias
A estratégia do governo para recompor receitas diante do descontrole fiscal tem sido pautada por medidas de curto prazo, com destaque para a edição da Medida Provisória 1227/2025, que alterou o regime de compensação de créditos de PIS/Cofins. A MP proibiu a compensação imediata desses créditos com outros tributos federais, o que representou um aumento indireto da carga tributária para milhares de empresas. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) estimou que a medida impactará negativamente o fluxo de caixa de 278 mil indústrias no país, com potencial de desaceleração de investimentos e aumento de preços ao consumidor. A reação do setor produtivo e do Congresso foi intensa. Até o início de junho, 13 ações de inconstitucionalidade foram protocoladas no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a MP 1227, sob o argumento de violação ao princípio da não surpresa tributária e ao direito à compensação previsto no Código Tributário Nacional. A insegurança jurídica criada pela medida enfraquece o ambiente de negócios e compromete a previsibilidade fiscal, especialmente em um contexto de desaceleração econômica e alta da informalidade. Além disso, o sistema tributário brasileiro continua sendo um dos mais regressivos e complexos do mundo. A carga tributária bruta consolidada atingiu 34,5% do PIB em 2024, segundo dados da Receita Federal, porém com forte incidência sobre consumo e folha de pagamento, e baixa progressividade sobre renda e patrimônio. Estudo recente da OCDE (Taxing Wages 2025) apontou que o Brasil tributa o consumo em 49,3% da carga total, frente à média de 32% nos países desenvolvidos, o que penaliza proporcionalmente mais os estratos de baixa renda.
Reforma tributária: desafios e entraves
A aprovação da Emenda Constitucional n.º 132/2023, que criou o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) e a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), representou um avanço em termos de racionalização do sistema, mas sua regulamentação continua emperrada no Congresso. Até junho de 2025, apenas uma das leis complementares previstas foi votada, e ainda há forte disputa entre estados e municípios quanto à partilha da receita e ao modelo de compensação de perdas. As simulações da Receita Federal indicam que a transição completa para o novo sistema só ocorrerá em 2033, com risco de aumento da carga tributária no curto prazo para setores intensivos em mão de obra e serviços. A ausência de calibragem nos mecanismos de crédito financeiro, cumulatividade e alíquotas nominais pode gerar efeitos regressivos e aumento do contencioso tributário, que já soma mais de R$ 5,6 trilhões em estoque, segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT).
Política Monetária, Inflação e Custo de Vida
A política monetária brasileira em 2025 opera sob o peso de uma conjuntura em que a eficácia dos instrumentos convencionais é sistematicamente corroída por pressões estruturais inflacionárias, desvalorização cambial persistente e instabilidade fiscal. A inflação não apenas ultrapassa as metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), como apresenta rigidez de base, evidenciada pelo comportamento dos núcleos inflacionários e pela dispersão dos preços monitorados. Neste cenário, os efeitos da política monetária sobre o custo de vida tornam-se particularmente regressivos, penalizando os segmentos de menor renda e acentuando desigualdades socioeconômicas.
Inflação persistente e desorganização da ancoragem de expectativas
De acordo com o IBGE, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado em 12 meses até maio de 2025 alcançou 5,04%, superando o centro da meta inflacionária (3%) e aproximando-se do limite superior do sistema de metas (4,5%). A análise desagregada revela que os maiores vilões da inflação continuam sendo os grupos de alimentação e bebidas (7,2%), habitação (6,8%) e transportes (9,1%). Esses dados são corroborados pelo Boletim Focus do Banco Central, que também projeta inflação acima da meta até, pelo menos, o segundo semestre de 2026. A rigidez inflacionária observada decorre da conjugação de diversos fatores: desvalorização cambial acentuada, que impacta diretamente os preços de insumos importados; aumento dos custos de energia elétrica e combustíveis; e a recomposição de margens nos setores de serviços e varejo, que haviam comprimido preços em 2023–2024. O núcleo de inflação por médias aparadas, medido pelo Banco Central, permaneceu em 5,9% ao ano, enquanto a média dos cinco núcleos apurados pelo Ipea atinge 6,1%, evidenciando uma tendência estrutural que desafia o controle por meio apenas da taxa básica de juros.
Política de juros: inércia contracionista e efeitos assimétricos
A taxa Selic, mantida em 14,25% desde março de 2025, figura entre as mais altas do mundo em termos reais, considerando uma inflação projetada de 5%. Os juros reais ex-ante, superiores a 8,8%, produzem efeitos contracionistas significativos sobre a atividade econômica, especialmente sobre o consumo das famílias e o investimento produtivo. Os dados da Anbima revelam que o custo médio efetivo do crédito ao consumidor atingiu 42,7% ao ano, enquanto o crédito rotativo para cartão ultrapassou 430% ao ano, com inadimplência crescente em faixas de renda até dois salários mínimos. O encarecimento do crédito afeta particularmente os pequenos negócios e os consumidores de menor poder aquisitivo, que possuem menor acesso a instrumentos de proteção contra a inflação. A pesquisa trimestral do Ipea (junho de 2025) apontou que mais de 62% das famílias com renda mensal de até R$ 2.500,00 estão endividadas em condições de risco, com 34% delas inadimplentes há mais de 90 dias. No setor empresarial, o índice de concessão de crédito para capital de giro caiu 11,3% no primeiro quadrimestre, limitando a capacidade de manutenção de estoques e de financiamento da produção em setores como varejo, construção e indústria leve.
Custo de vida e impacto sobre a cesta básica
O custo de vida tem subido de forma contínua e desproporcional à renda da maioria da população. Segundo levantamento do Dieese (maio de 2025), o valor da cesta básica nas capitais brasileiras apresentou alta média de 10,4% no acumulado de 12 meses. Em São Paulo, o custo da cesta atingiu R$ 821,64; em Porto Alegre, R$ 795,22; e em Brasília, R$ 808,50. O reajuste do salário mínimo para R$ 1.560,00, embora acima da inflação acumulada até dezembro de 2024 (6,84%), tornou-se insuficiente para preservar o poder aquisitivo diante do aumento concentrado de alimentos e energia. O gás de cozinha, por sua vez, registrou valor médio de R$ 127,00 por botijão de 13 kg em maio de 2025, segundo a ANP, representando mais de 11% da renda mensal das famílias que vivem com um salário mínimo. O diesel, impactado pela desvalorização cambial e pela elevação do preço internacional do barril de petróleo Brent (US$ 83 em média), superou R$ 6,40 por litro em diversas regiões, pressionando os custos logísticos e, consequentemente, os preços de hortifrutigranjeiros e produtos de primeira necessidade. A tarifa de energia elétrica, ajustada pelas bandeiras tarifárias acionadas desde fevereiro de 2025 devido à baixa nos reservatórios hidrelétricos do Sudeste, apresentou alta média de 13,2% para consumidores residenciais, conforme levantamento da Aneel. Esse aumento incide com maior intensidade sobre famílias que já destinam até 20% de sua renda ao pagamento de contas essenciais, comprometendo o orçamento doméstico e elevando os índices de vulnerabilidade.
Pass-through cambial e efeitos inflacionários de segunda ordem
A desvalorização cambial do real frente ao dólar, que atingiu R$ 6,95 em maio e ultrapassou R$ 7,00 em alguns momentos de pico, tem gerado efeitos inflacionários que extrapolam os produtos diretamente importados. O pass-through cambial, medido como a transmissão da variação da taxa de câmbio para os preços internos, foi estimado pelo Banco Central em 24,3% no período recente. Esse fenômeno tem maior impacto sobre os setores de bens duráveis (automóveis, eletrodomésticos) e insumos industriais (fertilizantes, componentes eletrônicos), cujos preços subiram, respectivamente, 8,5% e 11,7% nos primeiros cinco meses do ano. O setor agropecuário, intensivo em importações de fertilizantes e defensivos — cerca de 85% são adquiridos do exterior —, repassou os aumentos de custo ao consumidor final, com impactos diretos sobre os preços de arroz (+12,3%), feijão (+10,7%) e leite (+14,9%) no varejo. A escalada dos preços de alimentos e combustíveis desencadeia um ciclo de inflação inercial, no qual empresários, antecipando reajustes futuros, aumentam preços de forma preventiva, gerando um ambiente de incerteza e deterioração das expectativas.
Implicações distributivas e regressividade da inflação
A inflação brasileira, além de elevada, é notadamente regressiva. Estudo do Ipea publicado em abril de 2025 demonstrou que a inflação percebida pelas famílias de baixa renda (até dois salários mínimos) foi de 6,8% no acumulado de 12 meses, enquanto para os 10% mais ricos ficou em 4,3%. Essa diferença se deve ao fato de que os mais pobres consomem proporcionalmente mais alimentos, gás, energia e transporte público — itens que sofreram maiores variações de preços. Esse tipo de inflação reduz diretamente o consumo de itens básicos e aumenta os índices de insegurança alimentar, que já afetam mais de 34,5 milhões de brasileiros em 2025, conforme levantamento da Rede PENSSAN. O resultado é um ciclo de retroalimentação da pobreza, redução da produtividade laboral e elevação das demandas por políticas assistenciais, em um ambiente de restrição fiscal severa.
Indicadores Sociais, Renda e Mercado de Trabalho
A estrutura social brasileira em 2025 revela a persistência e o agravamento de desigualdades históricas, combinadas a novas formas de vulnerabilidade derivadas do empobrecimento generalizado, da deterioração do mercado formal de trabalho e da fragilidade dos mecanismos de proteção social. O aumento da inflação, a estagnação do salário real e o crescimento da informalidade impuseram severas restrições à qualidade de vida da maioria da população. As estatísticas atualizadas expõem um país onde o crescimento econômico modesto convive com a concentração de renda, insegurança alimentar e exclusão do sistema previdenciário, mesmo com expansão de programas sociais.
Desigualdade de renda e empobrecimento
Segundo a última Síntese de Indicadores Sociais (SIS/IBGE, abril de 2025), a renda domiciliar per capita média no Brasil situava-se em R$ 1.597,00, uma retração real de 3,2% em relação ao mesmo período de 2024, corrigida pelo IPCA. O percentual da população com renda inferior a meio salário mínimo mensal por pessoa (R$ 780,00) subiu para 28,7%, o maior desde 2020. Essa faixa abrange aproximadamente 61 milhões de pessoas, a maioria concentrada nas regiões Norte e Nordeste, onde os efeitos da inflação alimentar e energética foram mais agudos. O coeficiente de Gini, que mede a desigualdade na distribuição da renda, foi estimado em 0,534 no primeiro trimestre de 2025, conforme estudo do FGV Social, com tendência de alta. Trata-se de um dos maiores índices entre as principais economias emergentes. A parcela dos 10% mais ricos da população detém 42,8% da renda nacional, enquanto os 40% mais pobres concentram apenas 12,2%. Essa disparidade foi ampliada pela recuperação assimétrica da economia pós-pandemia e pelo modelo tributário regressivo, que onera consumo e folha salarial em detrimento da tributação de patrimônio e rendimentos de capital.
Insegurança alimentar e exclusão social
A insegurança alimentar em níveis moderado e grave atinge cerca de 34,5 milhões de pessoas no Brasil, segundo o Inquérito Nacional da Rede PENSSAN (maio de 2025). A crise do poder de compra, aliada ao aumento nos preços de alimentos básicos — como arroz, feijão, óleo e proteína animal —, compromete o acesso regular a uma dieta nutritiva e adequada. Em mais de 8,2 milhões de domicílios, houve relatos de pessoas adultas ou crianças que passaram um dia inteiro sem comer por falta de recursos, o que caracteriza insegurança alimentar grave. A concentração da insegurança alimentar entre famílias chefiadas por mulheres negras, sem acesso regular a emprego formal, revela um padrão de vulnerabilidade interseccional. Nessas famílias, a proporção de gastos com alimentação pode ultrapassar 55% da renda mensal. Em áreas urbanas periféricas e zonas rurais remotas, a ausência de políticas de abastecimento, transporte público e rede de saúde agrava a exclusão social, desafiando a eficácia de programas como o Auxílio Gás e a Tarifa Social de Energia Elétrica.
Dinâmica do mercado de trabalho: informalidade e subutilização
O mercado de trabalho brasileiro apresenta indicadores fragilizados, com predomínio de vínculos precários e lenta recuperação da ocupação formal. De acordo com a PNAD Contínua (IBGE, 1º trimestre de 2025), a taxa de desocupação foi de 8,9%, equivalente a 9,7 milhões de pessoas. Entretanto, o dado mais alarmante é a taxa de subutilização da força de trabalho, que atingiu 21,3%, ou cerca de 23,5 milhões de pessoas. Essa métrica inclui trabalhadores subocupados por insuficiência de horas e aqueles que desistiram de procurar emprego por desalento. A informalidade representa 40,1% da população ocupada, totalizando 39,4 milhões de trabalhadores sem carteira assinada ou contribuições à Previdência Social. Setores como construção civil, comércio ambulante e serviços domésticos concentram as maiores taxas de informalidade. O rendimento médio do trabalhador informal (R$ 1.591,00) é cerca de 38% inferior ao do trabalhador com vínculo formal (R$ 2.562,00), segundo o Observatório da FGV Social. Essa diferença evidencia uma segmentação estrutural do mercado de trabalho, com acesso desigual a direitos trabalhistas, previdenciários e proteção contra choques de renda.
Juventude, educação e desemprego estrutural
Entre os jovens de 18 a 24 anos, a taxa de desocupação alcançou 20,8% no primeiro trimestre de 2025. A chamada “geração nem-nem” (nem trabalha nem estuda) representa 17,2% da juventude brasileira, segundo o Censo Nacional de Juventude. A ausência de políticas públicas de qualificação profissional, aliada à evasão escolar no ensino médio e à escassez de vagas no ensino técnico, resulta na perpetuação de ciclos de exclusão produtiva e dependência de políticas assistenciais. A taxa de abandono escolar no ensino médio atingiu 9,6% em 2024, segundo o Inep, agravando a lacuna educacional. No recorte racial, os dados revelam que 68% dos jovens desempregados são negros, o que reflete tanto o racismo estrutural quanto a desigualdade de acesso à educação de qualidade e redes de inserção profissional. O desalento entre jovens negros é quase o dobro do registrado entre jovens brancos, demonstrando a assimetria de oportunidades e a falência de políticas públicas de inclusão produtiva.
Rendimento do trabalho e precarização
O rendimento médio real habitual da população ocupada foi de R$ 2.091,00 no primeiro trimestre de 2025, representando uma queda de 2,1% em relação ao mesmo período de 2024. Esta retração é explicada pela recomposição parcial da inflação acumulada, perda de poder de barganha dos trabalhadores, e estagnação do salário mínimo real. O aumento do salário mínimo para R$ 1.560,00 no início de 2025, embora superior ao IPCA acumulado de 2024 (6,84%), ficou abaixo do crescimento do custo da cesta básica, energia e transporte urbano, provocando compressão da renda disponível. A participação do rendimento do trabalho no total da renda domiciliar per capita caiu de 75,3% em 2022 para 71,8% em 2025, com aumento da proporção de transferências monetárias públicas e privadas. Essa mudança estrutural no perfil da renda domiciliar indica um enfraquecimento da centralidade do trabalho como fonte de sustento e mobilidade social no Brasil, o que ameaça a sustentabilidade do financiamento da seguridade social e da economia de consumo interno.
Educação, Saúde e Investimento Público
O Brasil atravessa em 2025 uma fase de aguda restrição fiscal combinada à deterioração progressiva dos serviços públicos essenciais, especialmente nas áreas de educação e saúde. A retração dos investimentos federais e estaduais, somada à incapacidade de modernizar a gestão e ampliar a equidade no acesso, aprofunda os gargalos históricos de qualidade, cobertura e eficiência. A paralisia nos investimentos estruturantes, observada nos relatórios do Tesouro Nacional e da Secretaria de Orçamento Federal, compromete diretamente os direitos sociais previstos na Constituição e reduz a capacidade do Estado de mitigar os efeitos da desigualdade socioeconômica.
Educação: estagnação na base e regressão no topo
O sistema educacional brasileiro enfrenta um cenário de estagnação generalizada, tanto em termos de desempenho quanto de capacidade de oferta. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), publicado em março de 2025, revelou que apenas 34% das escolas públicas de ensino fundamental alcançaram a meta estipulada para o biênio anterior. Os anos finais do ensino fundamental (6º ao 9º ano) apresentaram desempenho ainda mais crítico, com média nacional de 4,6, abaixo da meta de 5,2. A taxa de reprovação foi de 13,5% em 2024, com destaque negativo para as regiões Norte e Nordeste. A evasão escolar no ensino médio permanece elevada. Segundo o Censo Escolar 2024/2025, a taxa de abandono foi de 9,6%, impulsionada por fatores como trabalho precoce, deslocamento urbano precário e falta de atratividade curricular. Apenas 18,4% dos estudantes de escolas públicas acessaram o ensino superior até os 19 anos. A pandemia agravou déficits de aprendizagem, que não foram plenamente remediados pelas políticas compensatórias implementadas entre 2021 e 2023. Estudo da Fundação Lemann em parceria com o INEP estima que os estudantes do 5º ano do ensino fundamental perderam, em média, 1,6 ano letivo em proficiência de leitura e 2,1 em matemática. O ensino superior também sofre desfinanciamento contínuo. Os repasses discricionários às universidades federais, que já haviam sido reduzidos a níveis historicamente baixos em 2023, foram novamente contingenciados em 2025. O orçamento total para manutenção e custeio das 69 instituições federais foi fixado em R$ 4,9 bilhões, valor 17% inferior ao executado em 2022, descontada a inflação. Os cortes afetaram bolsas de iniciação científica, programas de extensão, infraestrutura tecnológica e assistência estudantil, provocando aumento da evasão e protestos em diversas universidades.
Saúde: filas, desabastecimento e iniquidade
No sistema público de saúde, os indicadores de desempenho e acesso refletem uma realidade alarmante. O orçamento do Ministério da Saúde em 2025 foi aprovado em R$ 192 bilhões, mas até maio apenas 39% haviam sido empenhados, segundo o SIOPS. As verbas discricionárias para custeio da atenção básica e média complexidade foram reduzidas em R$ 5,7 bilhões em relação ao exercício anterior, impactando diretamente a rede de Unidades Básicas de Saúde (UBSs), que perderam cerca de 11 mil profissionais entre 2023 e 2025 devido à descontinuidade de programas federais como o Médicos pelo Brasil. O Sistema Único de Saúde (SUS) enfrenta atrasos crônicos no fornecimento de medicamentos essenciais, como insulina, antirretrovirais e imunossupressores. O Sistema Nacional de Gestão da Assistência Farmacêutica (Hórus) reportou, no primeiro trimestre de 2025, falta intermitente de 34 medicamentos estratégicos em pelo menos 16 estados. A escassez resulta da combinação entre corte orçamentário, dependência de insumos importados e falhas na gestão logística e na política de compras centralizadas. Outro ponto crítico é a fila de cirurgias eletivas e exames de média e alta complexidade. Em maio de 2025, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) contabilizava mais de 1,3 milhão de procedimentos represados no país, com tempo médio de espera superior a 270 dias em estados como Pernambuco, Amazonas e Maranhão. A judicialização da saúde segue em alta, com mais de 471 mil ações judiciais em curso nos tribunais brasileiros, conforme levantamento do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), impondo novos custos e distorções à política pública. A cobertura vacinal, que vinha se recuperando desde os impactos da pandemia, voltou a cair. Dados do Programa Nacional de Imunizações (PNI) mostram que a taxa de vacinação infantil contra poliomielite foi de apenas 75,3% em 2024, muito abaixo da meta de 95%. A desinformação, a crise de confiança institucional e a escassez pontual de imunobiológicos explicam essa retração. O risco de reintrodução de doenças previamente eliminadas reacendeu o alerta da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), que emitiu nota técnica alertando para o “risco sistêmico de colapso vacinal na América Latina”, com menção específica ao Brasil.
Investimento público: retração estrutural
Os investimentos públicos federais executados até maio de 2025 somam apenas 0,28% do PIB, segundo o Tesouro Nacional. Trata-se do menor patamar desde o início da série histórica em 1997. A retração é explicada pela rigidez orçamentária imposta pela EC 95/2016 (teto de gastos, substituído pelo arcabouço em 2023, mas ainda vigente na prática) e pela prioridade conferida à rolagem da dívida pública e ao pagamento de precatórios, que consumiram mais de R$ 127 bilhões até abril de 2025. Setores como mobilidade urbana, habitação, saneamento básico e infraestrutura educacional foram particularmente atingidos. Apenas R$ 2,1 bilhões foram destinados ao Programa Casa Verde e Amarela em 2025, contra R$ 11,3 bilhões em 2019. O Programa Nacional de Saneamento Rural recebeu R$ 122 milhões, valor irrisório diante do déficit histórico de cobertura, com mais de 34 milhões de brasileiros ainda sem acesso à rede de esgoto e 11 milhões sem água potável, conforme dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS). A ausência de investimentos compromete não apenas a infraestrutura física, mas também a capacidade estatal de entregar bens públicos. A carência de escolas em tempo integral, laboratórios equipados, hospitais regionais e sistemas informatizados de atendimento acentua a desigualdade interterritorial no acesso a direitos básicos, penalizando principalmente as populações periféricas, indígenas e ribeirinhas.
O Brasil, inserido de forma periférica e dependente nas dinâmicas globais, enfrenta um ambiente geopolítico hostil, marcado por protecionismo, guerra econômica, instabilidade cambial e pressão inflacionária importada. A postura errática da diplomacia nacional, somada à fragilidade logística e tecnológica interna, compromete a capacidade do país de responder estrategicamente a essas transformações.
Tensão geopolítica e guerra prolongada na Eurásia
O prolongamento do conflito entre Rússia e Ucrânia, que entrou em seu quarto ano em 2025, intensificou a volatilidade nos mercados energéticos e alimentares. A imposição de novos pacotes de sanções contra a Rússia por parte da União Europeia e dos Estados Unidos, combinada com o rompimento parcial da cooperação energética com o Ocidente, gerou choques persistentes no fornecimento de fertilizantes, gás natural e petróleo. Como consequência, os preços internacionais de insumos críticos, como ureia e potássio, registraram alta acumulada de 23,6% nos primeiros cinco meses de 2025, segundo a FAO e o Banco Mundial. O Brasil, que importa aproximadamente 85% dos fertilizantes utilizados em sua agricultura — sendo 22% provenientes da Rússia e Belarus —, tornou-se particularmente vulnerável à escassez e à elevação de preços desses produtos. O impacto imediato refletiu-se no aumento do custo de produção agrícola, sobretudo na produção de grãos, afetando tanto a rentabilidade do agronegócio quanto os preços no mercado interno. A substituição de fornecedores é limitada por razões logísticas e tecnológicas, uma vez que a capacidade de armazenamento e distribuição nacional é insuficiente para garantir diversificação efetiva. Além disso, o fortalecimento da Organização de Cooperação de Xangai (OCX) e a expansão do BRICS+, agora incluindo países como Irã, Etiópia, Egito e Arábia Saudita, criaram novas esferas de influência que desafiam a hegemonia do Ocidente, mas também impõem dilemas à diplomacia brasileira. A neutralidade do Brasil frente à guerra — e, em especial, a presença do presidente Lula ao lado de Vladimir Putin no desfile do Dia da Vitória em Moscou, em maio de 2025 — foi duramente criticada por chancelerias europeias e norte-americanas, enfraquecendo a posição brasileira em negociações comerciais e ambientais com esses blocos.
Estados Unidos, Trump e protecionismo estratégico
A volta de Donald Trump ao poder nos Estados Unidos em janeiro de 2025 consolidou uma nova etapa da estratégia nacionalista e protecionista norte-americana. A imposição de tarifas adicionais sobre produtos agrícolas, industriais e minerais provenientes de países considerados “não alinhados” — categoria na qual o Brasil passou a figurar informalmente após se recusar a apoiar resoluções da OTAN na ONU — teve impactos diretos sobre as exportações brasileiras. Em abril de 2025, o Escritório de Comércio dos EUA (USTR) impôs uma tarifa de 25% sobre o aço brasileiro e de 18% sobre produtos agrícolas como suco de laranja, etanol e carne bovina in natura. O resultado foi uma queda de 13,4% nas exportações brasileiras para os EUA no primeiro quadrimestre do ano, conforme dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). A balança comercial bilateral, que em 2024 registrou superávit de US$ 5,8 bilhões a favor do Brasil, reverteu-se em um déficit de US$ 1,1 bilhão até maio de 2025. Os Estados Unidos também aprovaram a Lei de Prioridade Tecnológica Americana (American Technological Sovereignty Act), que restringe o acesso de países fora da OTAN e aliados estratégicos aos semicondutores, sensores avançados e tecnologias ligadas à inteligência artificial. O Brasil, excluído do programa, tornou-se ainda mais dependente de fornecedores asiáticos e europeus, comprometendo a modernização de setores como automotivo, aviação regional e agricultura de precisão.
China, desaceleração e dependência comercial
A desaceleração da economia chinesa em 2025, com crescimento estimado em 4,2% (o menor desde 1990, segundo o FMI), afetou diretamente a demanda por commodities brasileiras. As exportações de minério de ferro caíram 11% no primeiro semestre, enquanto a soja enfrentou forte concorrência da Argentina e dos Estados Unidos, que retomaram parte do mercado chinês com a reativação de acordos bilaterais suspensos em 2020. Apesar disso, a China continua sendo o principal parceiro comercial do Brasil, respondendo por 31,8% das exportações totais em 2024 e 30,1% até maio de 2025. No entanto, essa dependência se revela perigosa diante da falta de acordos comerciais com outros grandes blocos, como o Indo-Pacífico ou a União Europeia. A estrutura de exportações permanece concentrada em produtos de baixo valor agregado — soja (38,7%), minério de ferro (19,4%) e petróleo bruto (17,3%) —, reforçando a especialização regressiva e a vulnerabilidade aos choques de demanda externa.
Falhas logísticas e perda de competitividade
As limitações estruturais da infraestrutura brasileira agravam os efeitos da instabilidade global. O custo logístico de exportação de grãos a partir do Centro-Oeste é, em média, 31% superior ao praticado nos Estados Unidos, segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). A ausência de integração entre os modais ferroviário, hidroviário e rodoviário, a insuficiência dos terminais portuários e a obsolescência da frota de transporte de longa distância aumentam o tempo e o custo de escoamento, reduzindo margens de lucro e comprometendo a competitividade externa. Além disso, as tentativas de retaliação comercial por parte de países importadores em função do aumento do desmatamento na Amazônia, detectado por satélites da ESA e do INPE (9.322 km² entre junho de 2024 e maio de 2025), colocam em risco a ratificação do acordo Mercosul-União Europeia. A Comissão Europeia já condicionou o avanço do pacto à adoção de mecanismos de rastreabilidade e controle ambiental robustos pelo Brasil, especialmente em relação ao agronegócio. A não ratificação pode custar ao Brasil uma perda estimada de US$ 9,7 bilhões por ano em ganhos tarifários e de acesso a mercado, segundo estudo da Cepal.
Balança comercial e projeções de risco externo
O saldo da balança comercial brasileira até maio de 2025 foi de US$ 22,6 bilhões, uma queda de 18,3% em relação ao mesmo período do ano anterior. As exportações somaram US$ 138,9 bilhões, enquanto as importações chegaram a US$ 116,3 bilhões, impulsionadas pelo encarecimento de insumos tecnológicos, fertilizantes e combustíveis. O déficit na conta de serviços ampliou-se para US$ 37,4 bilhões no acumulado de 12 meses, elevando a necessidade de financiamento externo em um ambiente de fuga de capitais e juros elevados nos Estados Unidos. O fluxo de investimentos estrangeiros diretos também retraiu-se: foram US$ 59,2 bilhões entre junho de 2024 e maio de 2025, contra US$ 73,1 bilhões no mesmo intervalo do ano anterior. A instabilidade regulatória, os riscos fiscais e o fraco desempenho institucional são citados como motivos recorrentes para o arrefecimento do interesse de investidores estratégicos, especialmente na área de infraestrutura e energia renovável.
Perspectivas Estruturais e Riscos Sistêmicos (2025–2030)
O Brasil encerra o primeiro semestre de 2025 inserido em um contexto marcado por desequilíbrios acumulados, perda de capacidade estatal, esgotamento de modelos fiscais e regressão institucional. As evidências reunidas ao longo das análises anteriores apontam não apenas para uma crise conjuntural, mas para a formação de um ciclo de estagnação estrutural, caracterizado pela incapacidade de crescimento sustentado, deterioração social, desindustrialização progressiva e perda de protagonismo internacional. Os riscos que se desenham até o fim da década são de natureza fiscal, demográfica, ambiental, tecnológica e geopolítica, com impactos de longa duração e difícil reversão.
Estagnação econômica crônica e armadilha da renda média
A projeção de crescimento do PIB de 2,3% para 2025, ainda que positiva, não é suficiente para alterar a tendência de baixo dinamismo estrutural da economia brasileira. Segundo o Banco Mundial (Relatório Brasil 2025), o crescimento potencial do país foi revisado para 1,8% ao ano até 2030, em razão da baixa produtividade, insuficiência de capital humano, investimentos públicos e privados em retração, e ausência de reformas institucionais consistentes. Com isso, o país se mantém preso na “armadilha da renda média” — incapaz de competir com países de renda baixa em termos de custo e com os de renda alta em termos de inovação. A produtividade do trabalho no Brasil é inferior a 25% da média da OCDE, segundo dados da Cepal. A composição do PIB permanece dominada por atividades de baixo valor agregado: agronegócio, extração mineral e serviços de baixa complexidade. A participação da indústria de transformação no PIB caiu para 10,4% em 2025 — em 1986, era 24,5%. Essa retração compromete a inovação, limita a geração de empregos formais e dificulta o aumento de arrecadação sem aumento de carga tributária.
Colapso fiscal funcional e dilema federativo
A dívida pública bruta deverá ultrapassar 85% do PIB até 2026, conforme estimativa da Instituição Fiscal Independente (IFI/Senado). O risco de descontrole fiscal é agravado pela rigidez do orçamento, que mantém mais de 93% das despesas classificadas como obrigatórias. Sem espaço de manobra para investimentos, o Estado torna-se funcionalmente impotente para induzir crescimento e reduzir desigualdades. A tentativa de recompor receitas por meio de medidas provisórias, como a MP 1227/2025, provoca reação empresarial, insegurança jurídica e judicialização crescente. A crise federativa aprofunda-se diante da incapacidade dos entes subnacionais de equilibrar suas contas. Em 2025, 14 estados operam em regime de recuperação fiscal ou com nota C ou D no ranking de capacidade de pagamento da Secretaria do Tesouro Nacional. Municípios de pequeno e médio porte dependem, em média, de 78% de transferências da União, segundo dados do IBGE. A judicialização de gastos obrigatórios e o engessamento das vinculações constitucionais impedem reformas de médio prazo, gerando um ambiente de paralisia fiscal e degradação da capacidade estatal.
Vulnerabilidade social, demográfica e de segurança
A combinação entre inflação persistente, desemprego estrutural, informalidade elevada e estagnação da renda produz um ambiente de fragilidade social e aumento da insegurança pública. Os índices de homicídios voltaram a crescer em 2024 e 2025, após quedas expressivas nos anos anteriores. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, houve um aumento de 11,2% nos assassinatos no primeiro trimestre de 2025 em comparação ao mesmo período de 2024, com alta concentração em periferias urbanas, regiões de fronteira e territórios dominados por facções armadas. Além disso, o Brasil enfrenta uma transição demográfica acelerada. Em 2025, 10,3% da população brasileira tem mais de 65 anos — número que será de 18,6% até 2035, segundo projeções do IBGE. A aceleração do envelhecimento populacional pressiona os sistemas previdenciário e de saúde, reduz a taxa de atividade e exige planejamento de longo prazo em infraestrutura urbana, mobilidade, habitação e acessibilidade. No entanto, o país carece de uma política nacional de adaptação demográfica, e o investimento público per capita em idosos caiu 12% desde 2020, segundo o Ipea. A insegurança alimentar, que afeta 34,5 milhões de brasileiros, segundo a Rede PENSSAN, e o aumento da população em situação de rua, estimada em 227 mil pessoas em 2025, refletem o esgarçamento do pacto social e o colapso parcial das políticas redistributivas. A perda de coesão social aumenta o risco de radicalização política, crises institucionais e instabilidade democrática.
Retrocesso ambiental e inviabilidade climática
A política ambiental brasileira sofreu retrocessos relevantes entre 2023 e 2025. O aumento do desmatamento na Amazônia (9.322 km² em 12 meses), a expansão do garimpo ilegal, o enfraquecimento das fiscalizações e a estagnação da matriz energética renovável colocam o país em posição desfavorável nos compromissos climáticos internacionais. O Brasil não conseguirá cumprir as metas previstas na Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) do Acordo de Paris sem uma mudança drástica na política ambiental. Eventos extremos já impactam diretamente a economia. A estiagem prolongada no Centro-Oeste em 2025 causou perdas de mais de R$ 14 bilhões na produção agrícola, enquanto enchentes recordes em Santa Catarina e Rio Grande do Sul afetaram cerca de 2,3 milhões de pessoas, segundo a Defesa Civil Nacional. O Atlas da Vulnerabilidade Climática da Confederação Nacional dos Municípios (CNM) revelou que 63% dos municípios brasileiros não possuem plano de adaptação climática, o que evidencia o despreparo das gestões locais para responder a desastres.
Fragilidade tecnológica e atraso em inovação
A defasagem tecnológica do Brasil tornou-se estrutural. O investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D) permanece em 1,4% do PIB, enquanto países da OCDE investem, em média, 2,7%. O número de patentes concedidas a inventores residentes no Brasil caiu 17% em 2024, e os gastos públicos em ciência e tecnologia são os menores desde 2008. As universidades enfrentam evasão, sucateamento e ausência de recursos para pesquisa aplicada. A exclusão do Brasil de cadeias globais de semicondutores, softwares de segurança e inteligência artificial limita a capacidade do país de competir em setores de alta intensidade tecnológica. A ausência de uma política nacional de digitalização industrial impede a entrada do país na chamada quarta revolução industrial. Startups brasileiras enfrentam escassez de capital de risco, burocracia tributária e instabilidade regulatória, comprometendo a inovação de base.
Riscos geopolíticos e desintegração regional
Na arena internacional, o Brasil perdeu relevância como ator diplomático autônomo. A não ratificação do acordo Mercosul-União Europeia, a exclusão de parcerias estratégicas nos setores de defesa e tecnologia, e a neutralidade indefinida frente aos conflitos globais reduziram a influência geopolítica do país. A ausência de estratégia de inserção em cadeias regionais de valor, especialmente na América do Sul, compromete a integração produtiva e o avanço de políticas comuns em segurança alimentar, energética e climática. O enfraquecimento do Mercosul, a paralisação da Unasul e o descrédito frente à Aliança do Pacífico colocam o Brasil em isolamento crescente no continente. As oportunidades abertas pelo novo Banco de Desenvolvimento do BRICS são limitadas pela incapacidade de estruturar projetos bancáveis, ausência de planejamento federativo e resistência do Congresso Nacional à aprovação de créditos externos com contrapartida ambiental.
O Brasil de 2025 encontra-se na encruzilhada entre três caminhos: o aprofundamento da estagnação, a deterioração institucional ou a construção de um novo projeto nacional. As evidências coletadas neste estudo revelam que, sem reformas estruturais ancoradas em responsabilidade fiscal, justiça distributiva, soberania tecnológica, sustentabilidade ambiental e integração regional, o país corre o risco de mergulhar em um ciclo de decadência socioeconômica com alta rigidez. A reconstrução exige uma estratégia de Estado, pactuada socialmente, liderada com coragem política e sustentada por evidência empírica, inovação e inclusão. A janela de oportunidade para evitar o agravamento de uma crise estrutural está se fechando rapidamente. O Brasil está geopoliticamente desprotegido, economicamente exposto e diplomaticamente isolado em pontos estratégicos. A ausência de uma política externa coordenada e tecnicamente orientada, aliada à fragilidade de sua base produtiva e à falta de investimento logístico, compromete a inserção soberana do país nas cadeias globais de valor. Sem uma estratégia de integração produtiva regional, modernização da estrutura exportadora e reposicionamento geopolítico assertivo, o país seguirá vulnerável a choques externos, pressões comerciais e rearranjos geoestratégicos que se intensificam a cada ciclo. A trajetória dos investimentos públicos, em retração contínua desde 2015 e severamente agravada em 2025, expressa não apenas a fragilidade fiscal do Estado brasileiro, mas também a opção política por um modelo de ajuste concentrado na compressão da despesa primária. A degradação dos sistemas públicos de educação e saúde compromete o desenvolvimento humano e a produtividade futura, ao mesmo tempo em que corrói a confiança da sociedade na capacidade de resposta do Estado. O ciclo vicioso de subinvestimento, desigualdade e baixa mobilidade social permanece intacto, exigindo reformas estruturantes e políticas redistributivas de longo prazo. Os dados sociais e trabalhistas expõem um país marcado pela convivência entre crescimento econômico limitado e regressão das condições de vida da maioria da população. A precarização do trabalho, a informalidade estrutural e a estagnação da renda são sintomas de um modelo econômico excludente e concentrador. O mercado de trabalho não apenas falha em absorver a população economicamente ativa, como também impede a construção de trajetórias de ascensão e autonomia. A ausência de uma política nacional de emprego, ancorada em educação, qualificação e mobilidade social, compromete a capacidade do país de enfrentar seus desafios estruturais no médio e longo prazo. A política monetária restritiva implementada mostra-se limitada frente às origens estruturais da inflação brasileira, como a indexação de preços administrados, a volatilidade cambial e a rigidez orçamentária. O custo de vida elevado e a perda contínua do poder aquisitivo representam um dos principais fatores de insatisfação social e instabilidade econômica. A manutenção de juros elevados, sem reformas de base que ataquem os mecanismos de transmissão inflacionária, tende a agravar o desequilíbrio social e econômico do país. A política fiscal evidencia uma profunda disfuncionalidade entre rigidez orçamentária, improvisação arrecadatória e ausência de pactos federativos consistentes. A convivência entre alta carga tributária, baixa eficiência do gasto e instabilidade legislativa cria um ambiente macroeconômico disfuncional e fortemente limitador da recuperação econômica. Sem reformas estruturais nas despesas obrigatórias, revisão dos subsídios, racionalização da política de desonerações e reforma tributária progressiva, o Brasil continuará imerso em um ciclo de déficits, estagnação e erosão de confiança institucional.